“Tratamento da doença, que atinge em 90% dos casos as mulheres, inclui mudança nos hábitos alimentares.”
Fortes dores na região da bexiga podem ser sintomas de uma doença rara: a cistite intersticial, também conhecida como síndrome da bexiga dolorosa. A inflamação na parede da bexiga ainda provoca sintomas como maior vontade de urinar (de 8 a 10 vezes por dia), dor durante a relação sexual e no período menstrual, além de uma sensação de peso na barriga.
Apesar de serem facilmente confundidas, a cistite e cistite intersticial não são sinônimos. A segunda é uma forma crônica da cistite, isto é, ela pode persistir por mais de seis meses. Além disso, os sintomas não são os mesmos.
Geralmente, 90% dos casos de cistite intersticial são mulheres e 10% são homens. De acordo com o Dr. Paulo Salustiano, urologista (RJ), a doença não possui nenhuma causa claramente definida. “O que se sabe é que ocorre um processo doloroso na bexiga, sem nenhuma infecção aparente ou qualquer outra causa identificável”, explica o especialista.
Para o Dr. Luiz Fernando Carvalho, ginecologista da clínica Doktor’s, apesar de desconhecidas, suspeita-se que doenças autoimunes (anticorpos que atacam o epitélio da mucosa da bexiga) e substâncias tóxicas que agridem a região e causam irritação de forma crônica, também possam contribuir para o surgimento da cistite intersticial.
Fatores psicológicos, alterações endócrinas e maior susceptibilidade a dor são alguns dos fatores de risco desta doença. Alguns estudos também referem o aumento da incidência de abuso sexual ou trauma genital na infância como gatilhos para o surgimento da cistite.
Segundo o Dr. Luiz, doenças autoimunes na família e hábitos alimentares inadequados – ingerir bebida alcoólica, consumir alimentos ácidos como café, e chá preto – também podem contribuir para o seu surgimento. “Alguns pesquisadores dizem que o estresse também pode ser um fator de risco para ter cistite crônica”, complementa o urologista.
Não é simples descobrir se a pessoa tem cistite intersticial. Isto porque não existe nenhum exame específico que mostre a existência da doença. Sendo assim, o médico diagnostica a cistite por exclusão, ou seja, descartando outras doenças como infecções, tumores, cálculos renais, endometriose, dores pélvicas, doenças inflamatórias intestinais, entre outras.
O médico pode ainda fazer um diário miccional para checar se a pessoa vai muitas vezes ao banheiro no dia. “Como não há nenhum exame que possa confirmar com 100% de certeza, é muito importante uma avaliação clínica minuciosa com um urologista experiente nessa área para se chegar a um diagnóstico correto”, explica Paulo.
Depois de diagnosticada, é hora de tratar a cistite intersticial. Para isto, diversas medidas devem ser adotadas, como manter uma dieta balanceada – diminuindo os alimentos que aumentam a dor, como o café e bebidas com cafeína, chocolate, bebidas alcóolicas e gaseificadas, alimentos ácidos e adoçantes artificiais -, fazer tratamento psicológico (já que o estresse está associado à doença), e tomar medicação adequada.
Durante o tratamento, podem ser usados remédios analgésicos, antiinflamatórios, antihistamínicos, antidepressívos e anestésicos. Segundo o Dr. Paulo, um procedimento bastante utilizado e com bons resultados temporários é a hidrodistensão vesical, que pode ser realizada até mesmo no consultório. Em casos muito severos, a cirurgia para retirada da bexiga pode ser necessária.
Felizmente, a doença não evolui, mas se não for tratada adequadamente, pode prejudicar a qualidade de vida da mulher ao longo dos anos. A dica dos profissionais é, depois do diagnóstico positivo, fazer o acompanhamento multidisciplinar com psicólogo, fisioterapeuta e urologista.
“O entendimento da doença e seus aspectos é a melhor forma de lidar com os sintomas e amenizar os problemas”, finaliza Paulo Salustiano.
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