O poder de um absorvente no Quênia

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Quase um milhão de adolescentes deixam de ir para a escola no Quênia quando estão menstruadas perante a falta de acesso a absorventes e à higiene pessoal, o que torna o tema um tabu, fazendo com que 60% das meninas abandonem a escola antes de terminar o ensino médio.

No Quênia, como em outros lugares do mundo, a passagem das meninas à adolescência é um momento difícil. Mas as inseguranças e preocupações que enfrentam se intensificam em muitos países africanos perante a quase inexistente educação sobre saúde reprodutiva.

Para as quenianas, o momento de se tornar mulher envolve, na maioria dos casos, abandonar a escola e, consequentemente, suas perspectivas de futuro. Elas precisam deixar as aulas porque não têm acesso a banheiros limpos e privados, e não podem se limpar adequadamente durante a menstruação.

Além disso, como os absorventes estão fora do alcance de 65% das quenianas pelo seu alto custo, muitas têm que recorrer a outros meios – tecidos, folhas e papel – o que pode provocar infecções e múltiplas inseguranças que as impedem de levar uma vida normal. Isto faz com que quase um milhão de meninas se ausentem por até seis semanas na escola, enquanto 60% terminam abandonando os estudos por esta razão.

Algo tão simples como um absorvente pode transformar uma sociedade inteira, permitindo às meninas seguir a vida com naturalidade, assistindo a aulas junto com o resto dos seus companheiros e sonhar, como eles, em se tornar médicas, engenheiras e professoras.

A organização Zana iniciou diferentes programas – dos quais já se beneficiaram cerca de 30 mil meninas de entre 11 e 14 anos – para melhorar a educação sexual e romper com o tabu da menstruação, que segue cheio de estigmas sociais como a vergonha e a culpa.

“Acreditamos que a menstruação deve ser celebrada, não ser uma vergonha”, disseram representantes da Zana, que espera que algum dia a gestão da saúde menstrual seja reconhecida como um direito para todas as mulheres e meninas no mundo todo.

Ainda que o objetivo a longo prazo seja educar sobre educação sexual e reprodutiva – uma de cada quatro meninas desconhecem que podem ficar grávidas depois de menstruar – a distribuição de absorventes gratuitos é o primeiro passo para romper com o tabu sobre a menstruação.

“Mas as doações (de absorventes) não são suficientes”, destacou à Agência Efe a diretora-geral da Zana, Megan Mukuria, que insiste que é necessário mudar a mentalidade da sociedade e introduzir no mercado absorventes de maior qualidade e mais acessíveis que permitam uma solução duradoura.

Por isso, foi lançada uma nova marca destes produtos que já é vendida em diferentes assentamentos informais de Nairóbi a um preço de cerca de 7 xelins a unidade (menos de um centavo de euro) que são acessíveis para as famílias no Quênia, onde 46% da população vive abaixo da linha de pobreza. “Estou muito feliz e agradecida de receber absorventes que me fazem sentir valiosa. Senti como se tivessem me dado milhões de dólares”, disse a jovem Wambui.

O acesso à educação para as menores não é só uma questão de direitos e igualdade de gênero, mas também uma questão econômica, porque o crescimento dos países diminui se as mulheres forem excluídas do mundo trabalhista.

Segundo o Banco Mundial, se todas as meninas no Quênia terminassem o ensino médio, haveria um aumento de 46% no PIB do país ao longo da sua vida. Sem conhecimento sobre sua saúde reprodutiva, as meninas são mais vulneráveis a doenças, gravidezes não planejadas, casamentos prematuros forçados e à mutilação genital feminina.

As autoridades cada vez são mais conscientes disso, e prova do fato é que o governo do Quênia prometeu – durante a última campanha eleitoral – distrubuir produtos higiênicos gratuitos entre todas as escolares do país.

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