Você sabia que a adoção de um estilo de vida saudável pode melhorar os sintomas da Síndrome do Ovário Policístico? Sim. Cuidar da alimentação e praticar exercícios físicos vai muito além do que simplesmente focar na balança. Nós somos o que comemos.
Para falar sobre o tema, a convidada de hoje é Bruna Pitaluga Peret Ottani, ginecologista e obstetra, pós-graduada em Nutrologia e membro do The Institute for Functional Medicine (IFM).
Eis a entrevista:
O que é a síndrome dos ovários policísticos (SOP)?
Bruna – A síndrome dos ovários policísticos – SOP – é caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas que representam a alteração do funcionamento ovariano. A mulher deve apresentar alteração do fluxo menstrual (ciclos longos, geralmente acima de 35 dias, ou períodos sem menstruar), excesso de produção de androgênios (os hormônios masculinos) e na ultra-sonografia transvaginal os ovários aparecem com volume aumentado e com cistos (pequenas imagens arredondadas que ficam na periferia dos ovários). Por causa dessas alterações, as mulheres portadoras da SOP podem apresentar infertilidade, resistência a insulina, acne, hirsutismo (distribuição de pêlos com padrão masculino), obesidade, pele mais escura nas dobras (que se chama acantose nigricans). A causa da síndrome não está estabelecida e, apesar de afetar cerca de 10% da população feminina, o diagnóstico é de exclusão. Os exames complementares auxiliam para determinar a extensão do comprometimento metabólico mais do que para confirmar o diagnóstico.
Por qual razão as mulheres têm produzido uma maior quantidade de hormônios masculinos, os andrógenos, fator que pode afetar a fertilidade feminina?
Bruna – Na SOP as alterações levam a um ciclo vicioso: a alteração da insulina leva a modificação da síntese de androgênios pelos ovários e pela supra-renal, e o excesso de androgênios leva à resistência a insulina, o que leva para um efeito cumulativo e que tende a piorar os sintomas ainda mais.
Por qual motivo as mulheres têm apresentado a síndrome cada vez mais jovens?
Bruna – Existem muitas teorias sobre o aumento da prevalência da síndrome e o início mais precoce dos sintomas que têm sido acompanhado nos últimos anos. A inflamação crônica e exposição a agentes tóxicos (disruptores endógenos), inclusive no desenvolvimento embrionário, são duas dessas causas. O consumo excessivo de produtos industrializados com elementos químicos que agravam o funcionamento dos receptores hormonais tem sido uma causa bastante estudada.
Quais as mudanças de estilo de vida são recomendadas para mulheres com SOP?
Bruna – A mulher deve manter uma alimentação rica em vegetais, com muitas folhas verdes, de preferência orgânicos (já que pesticidas são disruptores endógenos), da maneira mais variada possível (quanto mais variada maior o aporte nutricional). Além disso, deve evitar alimentos industrializados com alto índice glicêmico. A informação metabólica gerada no útero é importante para a vida adulta, portanto, gestantes também devem se preocupar com a alimentação para as gerar filhas com ovários mais saudáveis. A prática regular de atividade física melhora todos os parâmetros metabólicos da SOP e é um dos tratamentos mais eficazes para resistência a insulina, diabetes e obesidade.
Existe um tratamento medicamentoso para SOP?
Bruna – O tratamento depende dos sintomas dominantes. O uso de metformina tem sido amplamente usado e apresenta um custo baixo. A espironolactona ajuda na redução da produção de androgênios e nos sintomas relacionados a ele, como a distribuição excessiva de pêlos, principalmente na face. Quando a mulher deseja engravidar, pode ser associada a metformina, o citrate de clomifeno para indução da ovulação. Em alguns casos pode ser necessário que a mulher procure uma equipe de Reprodução Humana para assistência.
Qual a abordagem nutracêutica que pode ser utilizada?
Bruna – Alguns compostos como inositol, n-acetil cisteína, magnésio, cromo, ácido lipóico, vitamina D, ômega 3 e semente de linho podem auxiliar no tratamento da SOP e potencializar o efeitos dos medicamentos, melhorando as taxas de sucesso do tratamento.
Fonte : http://emais.estadao.com.br